APOROFOBIA NAS REDES SOCIAIS DIGITAIS
QUANDO O ÓDIO AO POBRE ATINGE OS DISCURSOS NA INTERNET
Resumo
O ódio ao pobre tem nome próprio, aporofobia: a expressão, concebida por Cortina (2020) - designa um crime que, embora seja passivo de punição, dissemina-se nas redes sociais digitais. Neste artigo, analisamos dois blocos de comentários sobre uma campanha contra a esmola, denunciada no Instagram pelo Padre Júlio Lancelotti, sacerdote da Igreja Católica, ativista dos direitos humanos e atuante na cidade de São Paulo. A partir de uma abordagem dialógica, com os autores Bakhtin, Medviédev e Volóchinov, observamos que as posições axiológicas dos internautas se evidenciaram nas interações entre os internautas e foram definidoras das entonações de ódio nos discursos sobre os pobres e a pobreza. Constatamos que o embate entre os enunciadores no perfil do Instagram do padre Júlio resulta de um confronto entre cosmovisões opostas. Uma cosmovisão conservadora favorável ao apartheid social e comprometida com a concentração de renda e privilégios nas classes mais abastadas em oposição a um posicionamento progressista, distribucionista de renda e defensor dos direitos e oportunidades iguais para todos e todas. Na raiz deste fenômeno, está a replicabilidade, o maniqueísmo e a violência discursiva, praticada e incentivada inclusive por autoridades políticas e governamentais, que aumenta os danos à democracia e à convivência em sociedade
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